domingo, 22 de fevereiro de 2009

Perda de tempo

Sábado à tarde, indo para Campinas, me deparei com uma das cenas mais deprimentes de toda a minha vida. Não pelo fato em si, mas sim pela reação das muitas pessoas ao redor. Peço desculpas pelo tom um tanto quanto agressivo do texto, mas trata-se de um desabafo a respeito da mesquinharia que reina nesta terra brasilis.

O ponto da questão foi um incêndio que ocorreu em uma Kombi, na alça de acesso à Rodovia Santos Dumont, em Salto, região na qual o trevo com a Rodovia "Castellinho" encontra-se em obras. Cheguei ao local segundos após o início do incêndio, pois o trânsito acabara de parar cerca de 100 metros à minha frente.

De início parecia que o problema era apenas com a embreagem de uma carreta para transporte de combustível, o primeiro veículo a parar atrás da Kombi, devido à fumaça que subia ao redor do caminhão. Mal sabia que aquela fumaça era o princípio do fogo, que terminaria por se transformar em incêndio cerca de 2 minutos após. A Kombi estava na alça de acesso à Santos Dumont, portanto fora de minha visão. Quando me dei conta que havia um veículo em chamas na pista já era tarde demais. Cheguei no local e o fogo já tomava conta de toda a parte traseira da Kombi. Pensei ainda em fazer algo, mas o pequeno extintor dos automóveis pequenos em minha mão não seviria para mais nada. Aliás, somente grande volume de água poderia apagar o fogo, pois segundos após eu chegar ao local, os bancos começaram a queimar furiosamente.

Foi aí que comecei a prestar atenção nas pessoas ao redor, que estavam mais próximas e viram, TODAS, quando o motorista desceu com o extintor na mão tentando apagar o princípio de incêndio. Me senti então em um circo de horrores, com as pessoas se divertindo com a desgraça alheia. Alguns tiravam fotos, outros filmavam o veículo em chamas, havia risadas de alegria, pude ouvir até um "olha só que 'animar' a kombosa pegando fogo"... Outros chegaram ao absurdo de reclamar, pois aquilo iria atrasar a viagem. Houve um idiota que pegou a via na contramão e por pouco não colide de frente com uma Picasso que vinha na mão correta. Devia haver mesmo muita pressa em um sábado de Carnaval para tal atitude absurda...

Claro que não é preciso dar uma de bom samaritano e sair ajudando a todos, ou mesmo se arriscar. Porém, um mínimo de respeito é necessário, ou melhor, essencial. Não se tratava de um veículo velho ou mal cuidado. Era um modelo mais recente, já com o teto alto. Pelo que sobrou após apagar o incêndio, era um veículo bem cuidado, com a chapa em perfeitas condições, sem sinais de corrosão. Mesmo que fosse um carro velho e caindo aos pedaços, não se justifica achar bonito um incêndio.

Disso tudo, tirei algumas conclusões. A primeira delas é que não adianta nada exigir um extintor de incêndio com pó químico especial, para fogo das classes A, B, C e D, como é feito para os carros novos. A carga de 1 kg é mínima e, para piorar, ninguém se preocupará em ajudar quem precisar usar o extintor. O proprietário que se vire, meu extintor é que não vai ser usado em carro alheio, essa foi a grande verdade do que observei. Disso sai a segunda conclusão, de que não adianta absolutamente nada exigir um curso de primeiros socorros e dar noções de como agir am situações de emergência. O egoísmo das pessoas impede que haja algum benefício útil desse curso exigido por ocasião da primeira habilitação ou renovação de uma CNH mais antiga.

Agora entendo perfeitamente porque o trânsito brasileiro é como é. Não existe um mínimo de civilidade ou companheirismo. Impera o "salve-se quem puder", "eu por mim e Deus por todos". Por isso é que morrem mais de 45 mil brasileiros a cada ano, vítimas diretas de acidentes de trânsito. Isso sem contar os mutilados, que permanecerão o resto de suas vidas com alguma limitação, seja física ou mental.

Também compreendo o porquê de um programa ridículo como o Big Brother ter tamanha audiência. E ainda querem dizer que o Brasil está indo rumo ao Primeiro Mundo. Ledo e revoltante engano...

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